Um ex-funcionário de uma empresa que fez campanha eleitoral pelo WhatsApp confirmou que foram usados milhares de CPF’s, pela empresa, sem conhecimento dos titulares para a habilitação de chips de telefones celulares, em 2018.
A confirmação foi dada por Hans River Rio do Nascimento em depoimento nesta 3ª feira, 11, à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que apura a disseminação de informações falsas por aplicativos de mensagens e redes sociais, a CPMI das Fake News.
“Eu aposto que não”, respondeu Hanz quando a relatora da CPI, deputada Lídice da Mata (PSB-BA), perguntou a ele se as pessoas sabiam que o CPF delas estava sendo utilizado.
Hans River foi convocado a partir de requerimento do deputado Rui Falcão (PT-SP), porque o ex-funcionário moveu uma ação trabalhista contra a empresa Yacow por causa do não pagamento de horas extras.
Esse processo foi parar nas mãos de uma jornalista da Folha de São Paulo, o que deu origem a uma reportagem pouco mais de um mês após a eleição, revelando fraudes em CPF para o disparo de propaganda eleitoral (https://bit.ly/38m8LMP ) .
Tumulto e contradição – O depoimento de Hans foi um dos mais conturbados da CPMI.
Logo que a reunião começou, oposição e governo travaram uma rápida batalha para decidir se a reunião seria secreta (como queria a oposição) ou aberta (como queria o governo).
Parlamentares do PT alegavam que na Justiça do Trabalho o processo correu em sigilo.
Já o governo apenas defendeu que a sessão deveria ser aberta em nome da transparência.
Como não havia quórum para votação, o presidente da Comissão, Senador Angelo Coronel (PSD-BA), decidiu pela reunião aberta.
Hans procurou desqualificar a matéria da Folha de São Paulo, dizendo que as informações, bem como as fotos que constam na reportagem, não foram passadas por ele à jornalista Patrícia Campos Mello, e que não imagina como o jornal conseguiu o material.
O ex-funcionário chegou a dizer que a repórter se insinuou sexualmente para ele na tentativa de obter informações, mas não conseguiu.
Poucos minutos depois, a jornalista postou no twitter que as gravações que fez com Hans seriam veiculadas, lembrando ao depoente que mentir em CPI é crime (https://bit.ly/38k2Vvv ).
Deputados governistas também desqualificaram a reportagem e cobraram a ida da jornalista à CPI em forma de convocação, o que obriga a pessoa a comparecer.
Coronel considerou as denúncias muito graves “e acho que cabe a ela até como mulher vir a CPI e expor sua defesa”, considerou, enxergando até mesmo a necessidade de uma acareação entre os dois.
Há um requerimento, aprovado em setembro, convidando a jornalista.
Ofensas – Hans trouxe slides mostrando o mecanismo de disparo de mensagens e ativação de chips.
Ele garantiu que jamais disparou mensagens falsas ou que denegriam a reputação de alguém.
“No período em que estive na empresa, não houve disparo de mensagem denegrindo a imagem de ninguém. Não tinha nada de ofensivo. Ao menos no período que estive na empresa”, garantiu Hans, acrescentando que as mensagens continham apenas ‘santinhos’, que são fotos com o nome e o número do candidato.
Os parlamentares da oposição cobraram de Hans a exatidão do tempo em que ele trabalhou na empresa.
Em vários momentos, o ex-funcionário garantiu que começou a trabalhar na empresa pouco depois da prisão do ex-presidente Lula (abril de 2018).
No entanto, no processo trabalhista a data que consta é de agosto do mesmo ano.
Angelo Coronel considerou que pelo aspecto técnico o depoimento foi o primeiro dado à Comissão que realmente mostrou como são disparadas mensagens por aplicativos em uma campanha eleitoral.
No entanto, o presidente da CPI acha que “houve muito lapso temporal. Ele trabalhou 45 dias, não dava para fazer tanta coisa como ele disse que fez”, e lembrou que a CPI tem poderes de sugerir ao Ministério Público o indiciamento de quem mentir em depoimento à Comissão.
Campanhas – A oposição enxergou outras inconsistências no depoimento, como a afirmação de Hans de que fez campanha em 2018 para o vereador José Police Neto (PSD-SP).
Só que de acordo com a deputada Natália Bonavides (PT-RN) Police não disputou a eleição em 2018.
Hans River garantiu que fez várias campanhas políticas, entre elas a do deputado Rui Falcão e do ex-ministro Henrique Meirelles, mas nunca para o presidente Jair Bolsonaro ou para o Governador de São Paulo.
Rui Falcão rebateu o depoente dizendo que nunca fez campanha com a Yacow.
Nesta 4ª feira, 12, serão ouvidos representantes das operadoras de telefonia e da Agência Nacional de Telecomunicações, Anatel.